quinta-feira, 15 de outubro de 2009

REFLEXÕES DE UM PROFESSOR

Li esta publicação e gostei muito, este professor faz uma reflexão muito interessante do que é ser professor nos tempos de hoje ..... é para refletir mesmo.

Reflexões de um professor
26/07/2007 - 14h30 Por por Humberto Giménez*
Getty ImagesCom certeza não há um só professor que não tenha sentido angústia diante de seu ofício. Este sentimento se multiplica na atualidade, diante dos desafios que se impõem no cotidiano desse profissional. Como fazer para obter melhores resultados? Como motivar os alunos? Como captar e manter sua atenção? Como estimular a reflexão? Estas e dezenas de outras interrogações fazem “ferver” o cérebro dos professores. Este pequeno artigo é uma tentativa de discutir e pensar estas e outras questões relativas ao cotidiano do professor.


O trabalho com um documentário sobre o Japão, exibido pelo programa Globo Repórter da Rede Globo de televisão em 1998, despertou-nos certas reflexões. Era sabido que o documentário seria agradável e bem aceito. Entretanto, sua “antigüidade” era uma barreira. Assim, antes da exibição, procuramos trabalhar com a idéia de que, apesar dos anos, a temática era muito atual.

Logo no início do vídeo, um aluno educadamente comentou que matérias tão desatualizadas nem deveriam ser utilizadas. Após tentar motivá-lo rapidamente para a atividade, continuamos a assistir a reportagem.

A reflexão sobre aquele momento se impôs de forma inevitável. A partir daí identificamos alguns aspectos importantes na cultura e racionalidade de nossos alunos:
- Alguns assuntos apresentados no documentário captaram a atenção - cotidiano, tecnologia, esporte, relacionamentos, futebol e quadrinhos japoneses;
- Percebeu-se a imensa necessidade de atualidade;
- O documentário agradou por ser belo, bem produzido, dinâmico e por adaptar-se à racionalidade do jovem;

A observação das reações foi muito positiva, pois captou a atenção dos alunos por aproximadamente 40 minutos. Havia comentários paralelos sobre o tema, ou seja, o documentário atingiu seu objetivo. Cabe-nos perguntar quais aspectos conferem tal capacidade ao documentário. A identificação dos mesmos proporcionaria melhor compreensão sobre os jovens alunos e tal conhecimento poderá dinamizar as aulas.

É importante notar a qualidade do documentário. A produção da jornalista Ana Paula Padrão apresentava um conteúdo interessante e inteligente. Apresentava música variada e vibrante, adaptada ao gosto do jovem. Tem-se observado que a música exerce papel importante na vida do jovem. Assim, é importante utilizar uma linguagem musical que lhe seja interessante. Há ainda o fato do vídeo trabalhar com aspectos variados, pulando em um ponto e outro, voltando posteriormente ao mesmo, o que proporciona grande dinamismo e descontinuidade, sem cansar ao expectador. Entretanto, ao observador atento apresenta coerência e unidade.

O uso da imagem e a linguagem televisiva se mostraram bastante eficientes. O fato de também trabalhar com um tema presente na mídia (Japão) contribuiu para o bom andamento da atividade.

O conteúdo do documentário proporciona reflexão sobre valores apresentados na cultura japonesa. Em relação a isto, não houve boa recepção por parte dos alunos. Talvez eles não estivessem dispostos a discutir valores interiores. Além disso, percebemos certa dificuldade na compreensão e aceitação de uma outra cultura. Os comentários não foram bons quanto à situação da mulher, ao casamento arranjado e à timidez do jovem nipônico. Essas observações permitem-nos notar um tipo de comportamento, uma nova cultura, uma nova racionalidade, muito ligada à influência da mídia, ao prazer e ao espetáculo. Aquilo que faz parte da mídia, ou que proporciona algum prazer, representado no caso por dinâmica, imagens e sons próprios do mundo da TV, tem boa recepção pelos jovens. Por outro lado, para se conquistar a atenção dos alunos, o professor precisa dar um verdadeiro show. Isso é o reflexo de nossa sociedade: comércio e publicidade utilizam sempre objetos e mercadorias muito produzidos. É válida então a referência aos semáforos das grandes cidades, onde existem palhaços e malabaristas fazendo suas apresentações para pedir uma esmola. Hoje, até para ganhar esmola, é preciso dar show!

Inserido neste cenário, o professor precisa de: muita informação, extrema atualização, bom humor, habilidade nos relacionamentos, tempo para pesquisa e atualização para o preparo de um material de excelente qualidade comunicativa e visual. Uma boa aula, coerente e lógica, com boa didática ou um diálogo inteligente não serve mais. Ela deve ser uma apresentação bonita, uma exibição (no sentido do preparo, produção e planejamento). Vivemos a cultura do espetáculo, notórias nas propagandas. Coisas simples como objetos no supermercado são cuidadosamente preparados e arrumados. Há poucos dias atrás havia laranjas no cesto, polidas e lustradas. A estética se apresenta como um valor fundamental em nossos dias.

Um material que apenas dê conta do conteúdo, sem levar considerar questões como as mencionadas anteriormente, enfrentará dificuldades em ser acolhido pelos alunos. A utilização da cor, de uma linguagem mais próxima do jovem, quem sabe em estilo de revista, são aspectos que podem ajudar. O uso da imagem é essencial. Diante de tais observações, não seria o caso de nossos livros terem capítulos e assuntos mais variados, mais curtos, divididos em pequenos tópicos? De haverem mudanças mais rápidas? Quem sabe, até tópicos que seriam retomados e aprofundados posteriormente, ao estilo televisivo.

Analisando o assunto sob outra perspectiva, simplesmente adaptar-se a essa nova racionalidade é deixar de transformar o mundo. Assim, insistir na reflexão, no estudo e trabalho elaborado é opor-se a uma cultura de superficialidade e consumo. Novamente o equilíbrio soluciona a questão. A sociedade tem uma parcela significativa de culpa pelo fracasso da educação. Isso pouco tem sido mencionado. Ela está cada vez mais consumista e imediatista, voltada para a busca do prazer e para a criação de desejos e necessidades que “devem” ser atendidos. A mídia valoriza de forma absurda a fama, o poder e o dinheiro. O saber e as conquistas intelectuais são minimizados. Esforço e dedicação não são méritos consideráveis. O discurso defende que a educação é imprescindível, mas o que se vê na prática é um endeusamento do que é fácil e do que dá prazer imediato.

O desafio da educação e dos professores é imenso. Devemos ao mesmo tempo, adaptar-nos a uma sociedade em mudança, extremamente exigente, e buscar a constante transformação, com o objetivo de melhorar a situação do ser humano. Disso conclui-se que grandes mudanças são necessárias.

* Professor do IAP (Instituto Adventista Paranaense), FAP (Faculdade Adventista Paranaense) e Coordenador Educacional do Portal Adventista de Educação: EducAdventista.
http://www.educacaoadventista.org.br/educadores/index.php?option=com_content&task=view&id=13&Itemid=252

3 comentários:

Anônimo disse...

Mudar é sempre possível.

Anônimo disse...

Muito interessante.
Fernanda - turma 201

Anônimo disse...

Eu também gostei muito.